Esta oração não vale para eles...

Publié le 25-08-2010

de ARSENAL DA ESPERANÇA

Cheguei a Roma em novembro de 55. Um mês depois do início das aulas de teologia na Gregoriana, fui convidado a exercer uma atividade pastoral no Instituto Gabelli, uma casa de correção de menores.

Uma vez entrei num dos dormitórios onde estava encarcerada uma dezena de rapazes. Devia dar uma lição de catecismo. Não vi ninguém, mas tinha certeza de que estavam lá... Adivinhei, por alguns ruídos, que estavam embaixo das camas, escondidos pelas colchas. Como podia eu ensinar religião a quem nem sequer tinha vontade de sair para mostrar-se? "Na melhor das hipóteses, eu me enfio aí embaixo" pensei comigo mesmo, e assim fiz. Eu estava de batina. Eles se puseram a rir.

Aos poucos, foram saindo. Tornamo-nos amigos mais facilmente e eu pude dialogar com eles. Pela primeira vez, compreendi como é difícil falar com rapazes que estão presos, que não vêem os pais, que sentem aversão pela sociedade, que não acreditam na possibilidade de uma vida nova, muito menos no amor gratuito. Como falar com eles do Pai que está nos Céus?

Com eles não se pode falar de Deus Pai do mesmo modo como se fala, suponhamos, na igreja, a pessoas que querem rezar o pai-nosso e aos quais se pode dizer: "Irmãos, rezemos com amor e confiança a oração que o Senhor nos ensinou". Esta oração não vale para eles como para nós, porque para muitos a palavra "pai" significa o homem que batia na mãe deles, que os espancava, que se embriagava, que os forçava a roubar, que os expulsava de casa. Dizer a esses jovens que Deus é pai equivale a dizer a um operário que Deus é patrão. Era necessário penetrar o coração deles...

[Dom Luciano Mendes de Almeida]

(*) Esta história é parte do livro: "Unidos em favor da paz" fruto de um diálogo de Ernesto Olivero com Dom Luciano Mendes de Almeida.

Ce site utilise des cookies. Si tu continues ta navigation tu consens à leur utilisation. Clique ici pour plus de détails

Ok