A paróquia que sonhamos...

Publié le 15-09-2014

de ARSENAL DA ESPERANÇA

Trazemos, a seguir, um capítulo do livro “Per uma Chiesa scalza” (Por uma Igreja descalça), de Ernesto Olivero. "Santa Maria do Encontro" é o nome da paróquia sonhada por ele... Mais do que manifestar seus próprios desejos, neste texto Ernesto tenta aproximar cada vez mais os nossos sonhos dos sonhos de Deus e, principalmente, refletir sobre o que deve ser feito para que esses sonhos se tornem realidade. Boa leitura!

Santa Maria do Encontro

Em vinte anos, pode ser que nos tornemos uma nação sem Deus. Pode ser que muitas igrejas fechem, que outras se tornem museus, e que outras ainda se tornem atividades comerciais. A menos que...

Eu carrego dentro de mim o sonho de uma paróquia ideal, mas formada por homens e mulheres de carne e osso, visíveis. Não por anjos invisíveis. Minha paróquia ideal é dedicada a Santa Maria do Encontro. Os muçulmanos que vivem naquele bairro continuam sendo muçulmanos, bons muçulmanos, mas não têm medo de admitir que fazem parte dela. O mesmo vale para os judeus: "Nós somos judeus, a Torá é a nossa lei, mas participamos das atividades da paróquia de Santa Maria do Encontro". Em seu território há um clube muito frequentado por ateus. Eles também não têm nenhum problema em reconhecer que participam das iniciativas culturais e de solidariedade da paróquia.

Mas o que há de especial nessa paróquia que consegue reunir pessoas tão diferentes por sua cultura e religião? Primeiro, ela está aberta 24 horas por dia, 365 dias por ano, 366 no ano bissexto.

A qualquer momento, se você entrar na igreja e precisar ficar em silêncio para reabastecer a alma e o espírito, ninguém vai mandá-lo embora; você pode ficar lá o tempo que quiser. Se você precisar aprofundar um tema, pedir um conselho, conversar sobre um problema seu, você pode sempre encontrar alguém que fique com você, que não faça um sermão, mas que o ouça, sem fazer demagogia. Na paróquia que eu tenho em minha mente e em meu coração, quando em uma família, qualquer família, um homem ou uma mulher fica doente, imediatamente o boca a boca da solidariedade ativa um voluntário preparado, sério e discreto que vai visitá-lo, se informa e prepara um projeto de apoio que segue uma linha precisa de conduta: estar presente 24 horas por dia.

Nessa paróquia, nenhum doente é deixado sozinho. Se um rapaz – cristão, muçulmano, judeu, que acredita ou que não acredita; em suma, um filho daquele território – arruma algum problema, imediatamente o serviço de solidariedade se aciona e vai visitá-lo na prisão. "Escute, amigo, – ele deveria ouvir – se você quiser, podemos viver juntos este tempo de reclusão, podemos vir visitá-lo periodicamente. Saiba que quando você sair nós o ajudaremos a se reinserir, a encontrar um emprego. Quando estiver fora daqui, você não vai ser abandonado”.

Na paróquia de Santa Maria do Encontro há um grupo cultural que inventou uma universidade. Há cursos sobre qualquer assunto, tão interessantes que as pessoas preferem não assistir à televisão. Há um grande ponto de encontro onde as crianças, os adolescentes e os jovens podem praticar esportes de uma forma séria, onde é ensinado quem é Deus e quem é o homem, onde desde criança se aprende que o corpo tem muitas funções, da inteligência à sexualidade, que nos permitem crescer da melhor maneira.

Há uma catequese permanente, que dura toda a vida, uma ferramenta que ajuda a dizer sim ou não, a entender o que é o bem e o que é o mal; uma formação que incentiva jovens e adultos a entrar na política com espírito de serviço para cuidar também da vida dos outros e não só da própria. Lá existe uma cultura que considera uma riqueza, e não uma diferença, ser branco ou negro, do Norte ou do Sul, mulher ou homem. Nessa paróquia, todos voluntariamente doam uma porcentagem do seu salário. Ninguém é obrigado, mas – maravilha das maravilhas! – todos o fazem, quem acredita e quem não acredita, porque eles querem apoiar uma obra que serve a todos os membros da comunidade.

Nessa paróquia todo dia há um milagre: ninguém morre abandonado, ninguém dorme na rua. A pessoa com deficiência não é uma pessoa especial, mas é plenamente homem ou mulher e dá a quem quer correr a oportunidade de entender que a pressa não é boa conselheira, que nas calçadas, no ônibus ou em qualquer lugar onde existam degraus, todos podem subir com uma rampa, sem humilhar aqueles que seriam obrigados a fazê-lo de qualquer maneira. Com essa escola de vida, se pode lidar melhor com a vida.

Eu sinto que a paróquia que tenho em mente é parte do sonho de Deus. Qualquer um de nós a pode construir, mas deve acreditar. Essa paróquia não é utopia porque há comunhão entre todos, todos são responsáveis e os sacerdotes, guias espirituais da comunidade, não são esmagados pelas muitas coisas que têm a fazer. Um dos sacerdotes que mais contou na minha vida, por causa do seu amor por Deus, do seu rosto radiante e do seu testemunho, foi o Padre Michele Do, um dos primeiros a me fazer apaixonar-me pela Igreja. Eu fiz minha uma de suas frases: "A Igreja não é uma estrutura que tem de se atualizar, mas uma Presença à qual converter-se". Jesus veio para servir, não para ser servido. A verdadeira revolução, desde o seminário, é esta: servir, servir e servir. Quanto mais alto você subir, mais é: servir, servir e servir, porque se você não serve aos outros, então você é alguém que está ali para ser servido. O poder torna “da realeza” muitas pessoas. Se você não se coloca a serviço, o prestígio contagia qualquer palácio, qualquer escolha.


Na Igreja não precisamos preparar revoluções, mas sim entrar naquela normalidade que significa renascer a cada dia, “re-escolher” a cada dia estar com Jesus. Pode ser que alguns ou muitos vão embora. Jesus tem palavras de vida eterna, ontem, hoje e amanhã. Jesus não precisa de atualizações; é o Filho de Deus, ontem, hoje e amanhã, e nos dá a certeza de que as forças do mal não prevalecerão. Em Jesus mestre e em Jesus teólogo podemos confiar. Ele nos ensina que constrói sobre a fraqueza, mas só sobre a fraqueza que busca a graça, sobre a fraqueza que busca a verdade. Porque o contrário, a fraqueza que busca o poder, só pode criar problemas, e já criou tantos. Um exemplo: se a Igreja, na sua sabedoria, determinou que aos 75 anos um clérigo deve aposentar-se, essa regra precisa ser respeitada! É possível ser um santo bispo, um santo cardeal, um santo pároco também aposentado. O poder é sempre uma tentação. Só é útil se for envolto de oração e de serviço. Caso contrário, o poder – não importa se político, econômico, religioso – torna-se um problema.

Para uma paróquia assim, podem contar comigo, podem contar com a minha vida, e sei que podem contar com muitos dos meus amigos. Sei também que podem contar com tantos sacerdotes que estão entre as melhores pessoas que já conheci. Um dia, eu falei a um querido amigo meu, um político italiano de destaque, que os melhores exemplos que eu já encontrei estavam na Igreja. Pessoas comuns, padres, pessoas dispostas a tirar o pão da boca para dar aos mais necessitados. Com muita sinceridade, acrescentei que eu nunca teria imaginado encontrar no mesmo ambiente também os piores exemplos. No entanto, a história só pode ser mudada com a luz, com o bem, e não recriminando o mal. Eu me coloco em jogo: dez, cem, mil paróquias como a que eu tenho em mente farão explodir a paz no mundo inteiro.

(*) Este texto é um capitulo do livro "Per uma Chiesa Scalza", de Ernesto Olivero, p. 232-235.

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