Carta à Fraternidade e aos amigos (janeiro-fevereiro 2011)

Publié le 20-01-2011

de ARSENAL DA ESPERANÇA

Queridos amigos,
Esta carta de início de ano nos encontra seguramente diferentes de como estávamos antes, talvez fomos corrigidos, talvez sentimos a nossa inadequação, talvez fomos purificados por algum sofrimento, pelas lagrimas... e o “homem velho” não existe mais. Renascemos, enxergamos com olhos diferentes, conhecemos o sabor da esperança.

Amadureceu o tempo para dar um salto decidido em direção a Deus e à esperança. O momento que vivemos é de escuridão, falsidade; o demônio está tendo muitos sucessos, mas nos momentos mais escuros, o Senhor suscita o bem maior, suscita santos. Eu gostaria que suscitasse entre nós uma fraternidade de santos, gigantes na humildade, no silêncio, no serviço, a fim de que as palavras e os gestos ressoem. No silêncio o Senhor deu vida a uma imensa aventura, com pessoas como nós, sem ajudas, entre tantos obstáculos. Desse momento em diante, no silêncio, pode ter começado a aventura maior: cada um diferente de como era até então, surpreendendo-se uns com os outros: “você não é mais aquele que era!”. É a aventura da conversão, é a estrada da santidade.

Cada um de nós já viveu muito ou pouco tempo de vida, mas, se for objetivo, aprendeu e sabe distinguir a luz da escuridão. A luz e a escuridão dos outros é muito fácil reconhecê-las, mas se tiver bom senso, se houver sabedoria em nós, em um certo ponto da vida, aprendemos a reconhecer também a escuridão, o mal que há em nós. Aliás, sobretudo em nós. Somente assim pode haver um novo início, quando eu decido investir todas as minhas forças não para mudar e julgar os outros, mas para ter compaixão de mim mesmo e procurar com sinceridade mudar um pouco.

Então, o encontro com Deus torna-se verdadeiro, não platônico, não retórico. Simplesmente verdadeiro. E Deus torna-se o desejado, o procurado, o encontrado em cada situação. Desse momento em diante, inicia-se com Ele um verdadeiro encontro de amor: “Tu Senhor, és de verdade o meu tudo, te vejo em todas as coisas, no alto dos céus e na lama da terra, te reconheço a cada momento como o amigo, o mestre, o companheiro”. Cada um de nós, com a experiência de vida que já carrega, de agora em diante, totalmente e com sinceridade, pode ter Deus no coração, na mente, nos pensamentos, nas ações, de contínuo. Não esqueçamos que a oração pode ser o nosso respirar, pode ser o tempo mais bonito de cada dia.

Estamos vivendo uma história de Deus, mas permanecerá história de Deus se a cada momento a vivermos por Ele, com Ele, n´Ele. Se em um dado momento começarmos a nos sentir autônomos, realizados, acabou. Na nossa vida, até agora, vimos coisas bonitas e coisas feias, experimentamos emoções e fraqueza, mas agora o Senhor quer um salto de sinceridade, de abandono, porque o mundo precisa de enamorados de Deus. Deus não precisa de encantados ou de encantadores, mas de "encarnados". Precisa de enamorados normais, fieis, cheios de estupor 24h por dia, em todos os momentos, porque cada momento para o amado é o momento do amor, o único momento.

Deus está em nós, mas também o mal está ao nosso redor, é persuasivo, falso e faz de tudo para nos confundir, para nos fazer ver o pior dos outros, a fim de que não vejamos a unicidade do nosso bem, que somos amados por Deus e que Deus aposta em nós. A nossa primeira tarefa é aproximar os outros a Deus através do nosso testemunho.

Queridos amigos, nós entramos em uma serenidade quando nada nos da medo porque nada pode tocar o nosso SIM. Há um caminho que nos leva a essa segurança interior, sem exaltação e sem presunção, este caminho é o Evangelho; nós podemos “caminhar no Evangelho”. No Evangelho, Jesus pergunta mais vezes a Pedro: “Você me ama?” e cessa de fazer essa pergunta somente quando Pedro responde: “Tu sabes tudo de mim”. Se tivermos o desejo de crescer, entremos em um equilíbrio que nos faça dizer ao Senhor, sem reservas: “Podes contar comigo no bem ou no mal, quando estou cheio de amor e também quando tenho a cabeça toda revirada. Tu sabes tudo de mim. Tu podes despertar-me à noite, tu podes me fazer mudar as idéias às quais eu sou mais apegado, porque me fazes ver com sempre mais clareza a estrada onde me queres.”

Então, queridos amigos, façamos de tudo para entrar neste equilíbrio: conhecermo-nos bem e sermos firmes nas decisões tomadas, sermos leves e deixar que o nossos SIM possa ser movido pelo Senhor de um lugar ao outro.

Sempre pensei na nossa Fraternidade como um grande condomínio: em cada quarto há uma fraternidade pronta a mover-se de andar em andar, pela exigência do SIM, pela exigência do amor, sem problemas porque todos estamos sempre na presença de Deus.

Não somos ainda assim, mas o dom que o Senhor nos deu é este: ir à China, à Jordânia, ao Brasil, de hoje para amanhã, como se nada fosse, porque seja onde for estaremos na presença de Deus. Com o imprevisto no coração, com Deus, apegados a Ele, com abandono... A preparação, quando é possível, tem que ter, mas as novidades são sempre um imprevisto. Então, quando cada um de nós chegará a essa docilidade, a essa segurança, verdadeiramente entraremos na nossa plenitude. Caso contrário, faremos coisas boas, interessantes, mas não seremos ainda aquela vela da qual o Senhor precisa: “eu a vela, Você o vento”.

Queridos amigos, peço a vocês, por vocês e por mim, de permanecerem apegados de verdade a Deus, apegados a Ele. Ele nunca nos desiludiu e agora nos pede um salto a mais de abandono. Eu estou inteiramente dedicado a isso e peço que cada um de vocês faça o mesmo. Somente se permanecermos unidos e caminharmos juntos as pessoas poderão dizer: “Vejam como se amam, como se querem bem!” Nesse momento, em muitos nascerá o desejo de se unir, exatamente como aconteceu na primeira comunidade de cristãos.

É importante que o nosso testemunho e a nossa beleza interior comecem a dar frutos antes de tudo no interior da fraternidade: ali é mais difícil, porque nos conhecemos bem. Mas é justo que o melhor o vivemos, antes de tudo, entre nós. Cada um de nós pode ser o testemunho que irá converter o outro. Todo o resto vem depois. Gostaria que fôssemos considerados como os amigos de Jesus, os amigos de Deus, pessoas simplesmente boas, sinceras e disponíveis, com a comoção no coração. E gostaria que as pessoas pudessem dizer de nós: “Se eles são assim, imagine como deve ser o Deus deles!”. Gostaria que um homem, uma mulher, de qualquer raça, que deseje conhecer o cristianismo pudesse vir até nós, a qualquer momento do dia ou da noite, e o encontrasse sendo vivido.

Queridos amigos, cada palavra desta carta eu a pesei, rezei, amei. Peço a vocês de lê-la de verdade com todo o coração. Conta os encontros que tive em Madaba, em São Paulo e em Turim, encontros nos quais vossos olhares, às vezes as vossas lágrimas, os vossos desejos encontraram lugar em mim. Depositei tudo em Deus e compreendi que o dom que Ele nos fez é uma maravilha, mas mais os dons são de Deus, mais o mal os circunda e busca confundi-los. Assim, me vem em mente a carta de Madre Teresa: “Penso que devemos ter Nossa Senhora conosco, e junto a ela andar em direção das crianças, dos jovens, para levá-los para casa.” A essas suas palavras pensei de acrescentar que devemos ter Nossa Senhora conosco para que cada um de nós permaneça em casa.

O cristianismo é a mais bela história de amor que Deus poderia ter inventado. Mas para “permanecer em casa” o nosso SIM deve consolidar-se sempre mais. Um SIM que se sente perfeito é presunçoso, acabou. O nosso SIM, ao invés, não deve parar de crescer.
Eu a vela, Você o vento.
Os quero bem e os abençôo.
Ernesto Olivero (fundador da Fraternidade da Esperança)

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